22.12.14

E eu ponto

Uma palavra me persegue
Uma frase me persegue
Um alfabeto inteiro me persegue
E eu ponto

30.6.14

Alegria de menino


Corria atrás da bola despreocupadamente, soava mais que maratonista, era fim de tarde. No outro dia era a mesma coisa: chutar a bola com cuidado pra não bater no portão da velha Jandira que colou prego porque não aguentava mais as boladas dos moleques da rua.

Em casa, sempre nos mandavam estudar e gastar menos... menos água, luz, telefone...: “você não sabe de onde vem o dinheiro que paga as contas” e blá, blá, blá... Realmente, criança não sabe dessas coisas e nem precisa saber.

Me esforçava pra jogar legal, vai que um olheiro tá de olho e me leva pra jogar em algum clube. Depois, já adolescente, descobri que não gostava de futebol, preferia ouvir música e quando a turma se reunia pra discutir o jogo do dia anterior eu sempre sobrava. Mas não me importava, tinha aprendido uma música no violão enquanto os bobões corriam atrás da bola. Gostava mesmo da pelada, da reunião dos amigos e de impressionar a vizinha que, talvez, estivesse olhando os meninos da rua jogar. Ah, a vizinha!

Depois a gente abusava e ia soltar pipa ou jogar bola de gude ou tomar banho de rio ou apostar corrida ou brincar de cuscuz ou barra bandeira ou roubar goiabas no terreno da escola nos fins de semana. E quando chovia forte era aquela alegria, corríamos pra tomar banho de bica e chutar a poça de lama no amigo mais próximo.

Os dias eram longos e a gente não pensava muito nas coisas da vida, bastava apenas viver a vida. Nossos pais começavam a ter cabelos brancos, eram jovens, mas adultos e quase sempre nos chamava a atenção por isso ou por aquilo.

Em tempos de festa de fim de ano ou de São João todos da rua se reuniam pra comemorar, era bonito aquilo tudo e sempre voltava pra casa fedendo a fumaça das fogueira e das bombas e fogos que soltávamos na rua. Quando chegava em casa ia na cozinha beliscar algo pra comer e depois se jogava no sofá para assistir a TV: gastar o tempo era o melhor passatempo.

E quando gastamos pra valer nosso tempo de criança/adolescente fomos pego (de surpresa?) na esquina do tempo. E aí aprendemos de onde vem aquele misterioso dinheiro que paga as contas e blá, blá, blá... Quando saí de casa, nos meus vinte e poucos anos, levei meu violão e a vontade de ganhar o mundo. Hoje, quando volto, me deito no safá em frente à TV e sinto aquela mesma sensação de antes. Casa dos pais, comida de mãe e beijo na cabeça: “vai com Deus, meu filho... Jesus te abençoe”.

Já há algum tempo começou a surgir alguns cabelos brancos, sou jovem, porém adulto... Quem inventou o tempo foi mesmo um malandro gozador. Há de ser... Pra driblar as expectativas digo sempre que sou um jovem com responsabilidades de adulto... e que procura sempre manter a alegria de menino, apesar da vida, apesar do peso da vida.