20.10.08

EUtnografias #2

Tédio

Enquanto Caetano canta “samba e amor” do Chico, vou escrevendo estas linhas como quem procura inspiração na audição da música de poesia refinada estilo Noel Rosa. A falta de assunto que se ancora e parece não querer sair, termina virando assunto também por aqui.

Neste domingo monótono, passo longe da televisão para não cair na tentação de pegar o controle e ver a programação. Nessas horas fico pensando aonde vamos chegar com esses programas; a criatividade não chegou ao seu limite, espero. Ler um livro pode ser um bom programa, mas o barulho da televisão nos alcança aonde quer que nós nos escondamos. E qualquer barulho nos é prejudicial.

E enquanto vou escrevendo, ouço a vizinha chegando no apartamento ao lado. A voz de robô, inconfundível, a denuncia até mesmo há quilômetros de distância. Sei que é ela, primeiro, pela voz, segundo, por que sempre chega falando com seu gato siamês, como se o gato fosse seu filho. Mas o mais interessante é que a filha dela chama o gato de irmão. Aí eu não sei mais aonde é que estamos. Às vezes acho que o estranho sou eu, que as pessoas evoluíram e eu fiquei para atrás. Chego a pensar que isso tem alguma ligação com o fato de eu não assistir ou assistir pouco a TV. E as coisas vão dando um nó na minha cabeça.

Caetano segue cantando. Daqui a pouco retomo Balzac, aquela leitura que parece não ter fim. Uma pausa para o café e um fuminho bom.

O barulho vem do apartamento ao lado: a mãe discute com a filha (ou será o contrário?). Por mais que não me interesse, é impossível não ouvir a discussão, pois é costume da vizinha deixar a porta do apartamento aberta só com a grade. Agora é que não dá pra ler mais nada! E o gato, “filho” da vizinha e “irmão” da filha dela assiste a tudo sem nada entender com o olhar curioso dos gatos.

Agora que já consegui uma quantidade de parágrafos razoáveis para postar neste blog, me lembro que é melhor parar por aqui.

Domingo. Algum dia de outubro de dois mil e oito. Que poderia ser um, vinte e dois, trinta...