23.4.07

Conversa Muda

Surgiu uma conversa muda
Que só era possível há distância
Palavras que vem e que vão
Sem o calor do estar perto
Surgiu uma conversa muda
Que só era possível há distância
Palavras que vão subindo
Palavras que vão sumindo
Surgiu uma conversa muda
E muda continuou
Calados estavam
Calados ficaram
Surgiu uma conversa muda
Falava-se com os dedos
Ouvia-se com os olhos

22.4.07

(...)



Acelerou seu carro até o ponteiro bater 137 Km/h. A sua frente um declive que qualquer outro se sentiria a vontade para deixar o carro seguir por si mesmo. Como dizem por aí: “na banguela”.

A sua esquerda, o lado oposto da pista e os poucos carros que por ele passavam apressados e com faróis altos naquela noite. A sua direita, um penhasco aparentemente sem fundo se não fosse as ilusões da noite. Olhando para o horizonte as luzes da cidade brilhavam sem parar, quase ofuscando seus olhos.

Aumentou o volume de seu toca fitas “roadstar” para o máximo com o som de Bob Dylan rolando e acelerou mais seu carro movendo o volante lentamente para a direita, sem que, nem por que avançou em direção ao penhasco. O carro caia ferozmente enquanto ele olhava para aquelas luzes e, antes mesmo que elas se apagassem, apagou para o mundo, de uma vez por todas, a sua luz.