21.8.08

A festa


A pergunta era simples, mas a resposta exigia um pouco mais de reflexão que na exatidão daquele momento não poderia ser respondida.
– Acho que não – rebateu ele.
Na verdade ele não estava a fim. Já tinha pensado sobre isso antes e tinham chegado a uma meia conclusão.
– Não, esse ano, não. Não vejo motivos para isso.
– Mas porque não? – perguntou ela – afinal é seu aniversário!
– É, eu sei. Mas... não. Esse ano não vou fazer nada. A gente faz qualquer outra coisa, só nós dois. Toma um vinho... Ninguém vai lembrar mesmo!
Comemorar o aniversário, na verdade, nunca foi uma coisa que ele fazia questão. No entanto, das vezes que fez sempre achou legal. Na verdade isso era só uma desculpa para reunir os amigos, embora alguns levassem a coisa a sério e chegassem até a cantar o bendito “parabéns pra você”, a parte mais chata da festa. Sempre tem aqueles que fazem questão de cantar essa música, mesmo a contra gosto do aniversariante. Mas a questão pedia um pouco mais de reflexão. Não estava mesmo a fim de fazer nada naquele ano. Afinal de contas o que iria comemorar? Não será envelhecer se aproximar cada vez mais da morte? Ficou imaginando as pessoas na sua festa e ao invés de darem os parabéns, dariam os pêsames.
– Ah! Mas também seria legal chamar os nossos amigos, reunir todo mundo, conversar, beber algo... – Retrucou ela insistente.
– Mas a gente já faz isso quase toda semana.
– É, mas no dia do aniversário a gente ganha presente – respondeu ela logo em seguida tentando convencê-lo do contrário.
– Hummmm...
Aquela mulher era insistente. Mas não serão todas assim? Não será isto coisa intrínseca de tal gênero? Esta era. Ia até o fim com uma idéia. Além do mais gostava da festa, da reunião, da conversa, da bebida, dos amigos, da vida, da fala, do canto, da zuada, do fumo, da fumaça... Era um espírito dionisíaco, disso não temos nenhuma dúvida. Ele, por sua vez, sempre precisava de um empurrão pra pegar. Mas depois que pegava era como brasa acesa em dia seco de verão. Em várias ocasiões ela insistiu e insistiu e quando ele aceitou foi ela quem não segurou a onda até o final.
No bem da verdade, ele sempre achou importante comemorar os rituais de passagens da vida. E o aniversário não deixa de ser o maior de todos. Se não o maior, o mais freqüente; se não o mais freqüente, o mais auto-reflexivo. Após um bom tempo de argumentos de ambos os lados, ela já estava jogando com suas últimas cartas:
– Mas eu até já chamei algumas pessoas.
– Quer dizer que já tinha gente sabendo e eu não? – Perguntou ele espantado.
– É, avisei assim... informalmente.
Por alguns bons minutos ele ficou ali ruminando aquela história. Ela, por sua vez insistia na questão e jogou a seguinte pergunta:
– Afinal de contas qual o problema em se comemorar o aniversário? – No que ele respondeu:
– O problema não é comemorar o aniversário, mas comemorar as datas redondas. Isso sim é que é difícil!