26.9.08

Confissões de um usuário



Finalmente cheguei em casa! Estava morto, estressado e cheio de problemas. Não sei por que as coisas têm que ser assim... Todo mundo tem problemas, mas nunca pensei que iria ficar tão mal. Ainda bem que não tem ninguém em casa, isso só piora tudo. Prefiro estar aqui sozinho ouvindo o silencio, ouvindo o barulho do meu juízo queimando minhas idéias do que ta ouvindo o povo passando de um canto pra outro invadindo minha privacidade, ligando a televisão pra assistir a desgraça nossa de cada dia. Definitivamente não!

Então relaxei. Tirei a roupa e fiquei apenas de cuecas. Essa é uma das vantagens de se estar sozinho em casa, você faz o que quiser e anda como quiser. Tranquei as portas e fechei as janelas. Não queria ver as luz do dia a não ser pelas ínfimas brechas que ela tentava passar, formando no chão e nas paredes desenhos engraçados. Tava realmente começando a esquecer tudo, mas nos distraímos por alguns segundos e logo vem a realidade. Que droga...

Deitei-me na cama e tentei pensar em algo que me distraísse. Lembrei-me daquela “parada” que um amigo tinha me dado. Aquele troço era bem legal, ajudava a relaxar, você ficava tranqüilo. É como se você estivesse dentro de um balde d'água e alguém te jogasse no chão, dai você se espalhava por toda a parte, vendo cada pedaço seu em lugares diferentes e podendo sentir cada um deles.

Naquele momento queria me sentir assim de novo. Queria me proporcionar isso já que ninguém o poderia fazer. Recentemente vi na televisão uma pesquisa falando que isso poderia causar males à saúde. Mas tenho vários amigos que usam e todos vivem bem, ao menos aparentemente. Que droga! Também não sou nenhuma criança, sei o que é bom para mim. Só tem uma coisa chata, fica um puta de um cheiro forte no ar e se você segurar entre os dedos uma porra daquelas também fica um cheirinho por mais que você lave. Bom, mas dá pra disfarçar. Aqui em casa o pessoal não gosta, mas também eles não vão chegar tão cedo, espero. Vou ter um bom tempo pra viajar legal e curtir cada momento, desde acender umzinho e sentir aquela fumaça fazendo efeito ate ver se apagar a ultima ponta.

Decidido do ia fazer, fui à cozinha pegar o fósforo. Vou acender no quarto mesmo. Antes de tudo, peguei o meu melhor vinil e coloquei pra tocar. Nada mais sugestivo. Naquele momento só faltava uma pessoa (de preferência do sexo oposto) pra dividirmos esse momento e alcançarmos o nirvana. Tudo bem, como sempre de uns tempos pra cá, as melhores coisas que tenho feito tem sido sozinho.

Acendi. Respirei aquela fumaça gostosa o máximo que pude. Deitado na minha cama e de olhos fechados escutando o melhor som do mundo, aquele momento se tornara perfeito. Senti-me aquela água sendo jogada do balde novamente só que dessa vez foi diferente, ao invés do chão fui diretamente arremessado na parede e, contrariando as leis da física, me mantive colado na parede deitado verticalmente olhando as outras partes que ficaram no balde.

No auge de toda essa viagem, ouço alguém abrindo a porta. Puta que pariu! O pessoal chegou. Meus pais já estavam abrindo a segunda porta quando eu tentava fazer circular aquela fumaça toda, mas não teve jeito. Quando eles entraram, se depararam comigo só de cuecas com cara de espanto num quarto cheio de fumaça e som rolando ao fundo. Tentava esconder "a arma do crime", mas não teve jeito. Meu pai com cara de reprovação puxou minhas mãos que estavam para trás e falou curto e grosso: no dia que você tiver que acender esse bagulho fedorento que seja bem longe daqui. Já lhe falei que sua mãe não gosta do cheiro desses incensos. Agora vá vestir uma bermuda que você está parecendo um doido! É isso mesmo, caros leitores. Manda quem pode e obedece quem tem juízo!