19.12.07


O som rolava ao fundo enquanto discutiam:

- Eu sei, a conversinha é essa!
- Ah, to falando sério!
- E você acha que eu vou acreditar, é?
- E porque não? Alguma vez já menti?
- Hã...
- Ah, teve só aquela vez. Mas foi só.
- Aquela e aquelas outras que eu ainda não sei.
- Nada, tô falando sério.
- E eu também!
- Oh, amorzinho...
- Amorzinho a PUTA QUE PARIU! Eu sei qual é a sua, viu?!

Nesse instante, o lado B do vinil chega ao fim e a agulha engancha num arranhão bem no final da ultima música. Alguém precisa virar o outro lado rapidamente, aquele chiado infernal incomodaria até mesmo uma pedra.


- Ah, vai lá que agora é sua vez.
- Não, eu que fui da ultima vez!
- E foi bunitinho? Lembra que fui eu que escolhi este som e você que queria aquele outro ali?
- Ta, ta... eu vou.


A primeira música do lado A começa a tocar. Para se certificar que o vinil não vai enganchar, coloca uma moeda de 50 centavos em cima do braço da agulha.


- E aí mozinho? Até o clima da música está a nosso favor, não acha?
- Sei não...
- Ah, vamos lá, vamos tentar!
- Vamos tentar... É porque não é você; se fosse, eu queria ver!
- Pô... mozinho, Eu sei... É só a cabecinha!
- CABECINHA DE CÚ É ROLA! Tá pensando que eu não sei não, é?


Depois de muita insistência, fica decidido que pode ser:

- Ai!
- Pera!

- Vai, vai... Ta bom, ta bom!

- Pera!

- Pera UM CARAI, PORRA!

- Mas eu tô fazendo com carinho, mozinho!! Foi só 1 por cento!

- 1 por cento foi o que ficou de fora, cê tá doido, é?

- Nada... impressão sua!

Nesse instante, termina o lado A do vinil. Decidiram que não dava mais por hoje e pararam. Como o braço da agulha não voltava automaticamente quando acabava, o toca discos continuou girando. O silêncio dos dois tinha como fundo apenas o chiado da agulha. Após um tempo, alguém toma uma decisão:

- Aonde cê vai?
- Vou ali
- Ali aonde?
- Vou comprar cigarros e volto logo.
- Cigarros?
- É!
- Mas você nunca fumou!?
- ...

Bateu a porta e foi embora. E ainda tem gente que ainda acredita na história do cigarro.

16.12.07

...

No bolso uma poesia
E molhado de vermelho
Quase sem força
Percorre o seu corpo com as mãos trêmulas

Nos seus olhos
O desespero de quem reúne
As últimas forças
Para o ultimo gesto

Vai se empalidecendo e os olhos
Arregalados percorrem
O espaço em volta prestando
Bem atenção em cada rosto

O desespero dos outros
Causava-lhe mais medo

Ao achar suas ultimas palavra
Ainda havia forças
Para o ultimo pedido:
Publique!

9.12.07

Entre o sinal que vai abrir e os números que não param.

"Meus amigos essa noite eu tive uma alucinação
Sonhei com um bando de número invadindo o meu sertão
E de tanta coincidência que eu fiz essa canção...". (Raul Seixas)

Os números não param de crescer. Vão girando, girando... E não sei se é impressão minha ou se eu sou abestalhado mesmo, mas às vezes lembro que eu tenho um blog e me parece que, cada vez que eu venho aqui, os números não são mais os mesmos de antes. Daí me lembro que tem alguém lá não sei aonde que não sei por que (esse "porque" é junto ou separado? Quanta frescura nessa nossa língua!) gosta de dá uma passadinha aqui pra ver se tem algo novo.

Fico pensando o que explica isso... Não, acho que sou abestalhado mesmo, os números não estão crescendo, eu é que não me lembro dos números da última vez que vim aqui. E nem adianta anotar. É, eu sou abestalhado mesmo! Mas tenho essa leve impressão... Mas vai que é o que estou pensando, e aí? Não sei, às vezes leio isso tudo e me acho um verdadeiro idiota. Quem sabe as pessoas que vêm aqui também não achem o mesmo! Quem sabe as pessoas que vem aqui, quando lembram de vir aqui não digam: "eita, vou ver o que aquele idiota escreveu de novo!". E fico um tempão sem escrever...

Mas não é por conta disso. É por falta de idéias novas mesmo. E você que se deu ao trabalho de ler tudo isso até aqui, parabéns! Você está lendo nesse momento coisas aparentemente sem sentido. Então aí me vêm a pergunta: o idiota aqui sou eu ou é você? Hahhahahahahahhh... Acho que esta é uma relação dialética, não? Podemos nós dois, sim, eu e você, sermos dois idiotas. Mas aí não é possível! Para ser uma relação dialética teria que ser dentro do esquema tese + antítese = síntese. Então, se eu que sou o idiota, você é o que? O não idiota?? Acho que é melhor invertermos, não?

Concluamos de vez esse papo. Eu falava dos números, isso, os números. Acho que eles vão aumentando a cada vez que venho aqui. Me perguntava o que explicaria isso se não tenho postado ultimamente com freqüência. Paulinho da Viola cantou muito bem a minha situação: "Me perdoe a pressa. É a alma dos nossos negócios... Oh! não tem de quê. Eu também só ando a cem." É mais ou menos por aí... Voltando: tem algo que trás você aqui neste blog. Será o fato de eu ser idiota e só escrever idiotices ou será que o que eu escrevo não é tão idiota assim? Fico feliz se você escolheu a segunda opção. Mas, é bom lembrar que se você escolheu a primeira opção, você também se torna um idiota por estar lendo idiotices.

Bom, eu só sei que os números estão aumentando e seja por um motivo ou por outro o sinal vai abrir e eu vou ter que ir embora. E pra não dizer que falei apenas idiotices e esqueci da poesia:

SINAL FECHADO

(Paulinho da Viola)

Olá, como vai?

Eu vou indo, e você, tudo bem?

Tudo bem, eu vou indo correndo

Pegar meu lugar no futuro. E você?

Tudo bem, eu vou indo em busca

De um sono tranqüilo, quem sabe?

Quanto tempo...pois é, quanto tempo...

Me perdoe a pressa

É a alma dos nossos negócios...

Oh! não tem de quê

Eu também só ando a cem

Quando é que você telefona?

Precisamos nos ver por aí

Pra semana, prometo, talvez nos vejamos

Quem sabe?

Quanto tempo...pois é, quanto tempo...

Tanta coisa que eu tinha a dizer

Mas eu sumi na poeira das ruas

Eu também tenho algo a dizer

Mas me foge a lembrança

Por favor, telefone, eu preciso beber

Alguma coisa, rapidamente

Pra semana...

O sinal...eu procuro você...

Vai abrir...

Prometo, não esqueço

Por favor, não esqueça

Adeus,

Não esqueço, adeus.

26.8.07

Interação

Olá pessoal!

Proponho uma coisa diferente desta vez. Ao invés de colocar um conto com começo, meio e fim aqui pra vocês lerem, que tal construirmos um juntos, hein? Então é o seguinte: já comecei a escrevê-lo, mas ele está sem título e falta completá-lo. Vocês podem escrever no espaço para comentários, logo abaixo do texto. Então agora é com vocês!
---------------------------------


Às vezes gostaria de chorar, mas as lágrimas não caem. Não sei por quê. Às vezes, eu sinto, alguns momentos são de tristeza, diferentes daqueles em que abrimos um sorriso e vemos também o sorriso no rosto das outras pessoas. Mas as lágrimas não caem.

Paro e fico pensando: será que elas secaram? Ou será que sou eu que estou mais seco para as coisas ao meu redor? Será que um dia elas voltarão a correr por minha face? Ou estou eu em face de um problema?

Desta forma se questionava Vladimir sobre si mesmo. Parou pra pensar nessas coisas, pois achava que o ato de chorar é uma reflexão sobre tudo o que está acontecendo consigo. Além disso, é também uma forma de superar o problema visto que, logo após o choro, vem aquela sensação de alívio.

Mas ele não conseguia chorar com as coisas que se passavam em sua vida e sua angustia aumentava.

(...)

16.7.07

Corpofala



No seu corpo nu
Fiz um nome:
Verbos,
Advérbios,
Adjetivos,
Substantivos e me viciei.

Comecei acentuando aos poucos,
Obedecendo as regras.
Pontuei tudo direitinho:
Ponto por ponto,
Vírgula por vírgula.

Segui a regência do seu corpo
Com todos os vícios de linguagens.
Por que razão eu não sei.
Só sei que fiz porque precisava.
Nessas horas não se compreende
O porquê de tamanha loucura.

Estava tudo em concordância:
Pois as orações, subordinadas,
Me obedeciam completamente.

Quando dei por mim
Seu corpo estava todo riscado:
Os verbos estavam de ligação com os sujeitos.
As figuras de linguagem se comunicavam
Com as figuras de som.

Usei metáforas para dizer o que pensava,
Em nenhum momento disse um eufemismo.
Meu discurso foi direto e cheio de ironias.

Fui dramático, lírico e épico.
Abusei das hipérboles e
Usei mil sinônimos
Pra que você compreenda
a minha gramática.

E agora que coloquei
O ponto final,
Seu corpo fala.

No Silêncio

No silêncio do corpo de uma mulher
Pode-se escutar mil sons
Aparentemente inaudíveis.
Basta apenas um ouvido
Bem treinado.

No silencio do corpo de uma mulher
Escuta-se com os olhos,
Com as mãos,
Com a boca,
Com o nariz,
Com o corpo.
E também com os ouvidos.

14.7.07

Prova


Para entrar na minha vida você teve que fazer uma prova.
E foi reprovada!
Mas mesmo assim você entrou.
Não sei por qual porta.
Não sei por qual janela.
Não sei bem por onde, mas entrou.
Estou aberto,
Mas sou fechado.
Que seja como for.

Paisagens



Pela janela do trem a paisagem ia passando. Meus pensamentos não acompanhavam. Pelo contrário, estavam fixos martelando um assunto de vários dias, várias noites, meses, anos... E a paisagem ia se perdendo pelo caminho.

Em cada estação, um rosto que fica e outro que vai. Meus olhos apenas acompanham. Ali sentado, ouvindo o apito do trem, escutava-se também a boca das pessoas que se mexiam falando algo. Os olhos curiosos corriam de um canto para o outro.

Percebi que outras pessoas também acompanhavam as paisagens; que seus pensamentos, por alguns instantes, se desligavam e saiam passeando até o apito do trem quebrar a concentração.
E na medida em que avançava, eu, naquele balanço, comecei a deixar meus pensamentos em cada paisagem que via por aquela janela para quem sabe um dia, ao passar ali novamente, pegá-los de volta.

20.5.07

Lascivo


Após esgotar toda a sua energia interna naquele fluxo contínuo que lhe exauria, naqueles poucos segundos de êxtase, toda a sua força reacumulada e que ali, naquele momento, naquela ação quase humana, quase animal e instintiva parecia lhe chupar o último sopro vital de sua força... tudo parou.

Naquele estado, próximo ao da morte e próximo do paraíso, encontrou forças para acender um cigarro. Fumou ali mesmo, deitado na cama, todas as idéias que lhe viam na cabeça. Após cair a última cinza no chão, permaneceu imóvel numa languidez sem fim que lhe prostrava o corpo e a mente. Um Schiele na parede lhe transportava para longe. Fechou os olhos e as imagens vieram, dançavam na sua frente uma a uma. Sentiu o perfume, os toques, ouviu os sons.

Retomou seu pensamento. Se achou voluptuoso, sensual, indescritível. Um semideus na terra capaz de embriagar as pessoas apenas com seu olhar. Sabia de seu poder sobre as pessoas, de sua influência, da sua magia.

Com as energias renovadas, se sentiu forte novamente. Livrou-se de seu estado moribundo anterior. Procurou por Deus, procurou pelo Diabo e só viu a si mesmo: Dionísio. Então, se lançou na noite escura a procura dos seus.

18.5.07

Ébrio



Parou pra pensar na sua situação. Acabou chegando a conclusão de que não havia muita coisa a fazer. Vinha bebendo aos poucos daquela água doce, sabia do perigo. A embriaguez poderia vir veloz e durar um olhar ou um sorriso, mas poderia também fazer morada e não querer sair mais.

Com o copo na mão a pensar, sua boca salivava e seus olhos brilhavam só de sentir o cheiro. Então, pensou como das outras vezes: ao invés de tomar um porre, me embriagarei aos poucos. O homem, ser racional, quase nunca se dá por satisfeito. Conhece o perigo e anda ao seu lado desafiando-o e chegando muitas vezes próximo à linha imaginária que divide o sim e o não, o falso e o verdadeiro, o correto e o errado, a razão e a loucura, o prazer e a dor, a vida e a morte, o amor e o ódio. É só então que do corpo surge a vontade. A cabeça, imediatamente, diz que não! E num terceiro momento parece haver um consenso entre as partes: é só mais essa e depois eu paro!

A embriaguez veio veloz e durou o tempo de um olhar e de um sorriso, mas fez morada e se recusou a ir embora.
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Ps.: "É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar"
(Gilberto Gil)

23.4.07

Conversa Muda

Surgiu uma conversa muda
Que só era possível há distância
Palavras que vem e que vão
Sem o calor do estar perto
Surgiu uma conversa muda
Que só era possível há distância
Palavras que vão subindo
Palavras que vão sumindo
Surgiu uma conversa muda
E muda continuou
Calados estavam
Calados ficaram
Surgiu uma conversa muda
Falava-se com os dedos
Ouvia-se com os olhos

22.4.07

(...)



Acelerou seu carro até o ponteiro bater 137 Km/h. A sua frente um declive que qualquer outro se sentiria a vontade para deixar o carro seguir por si mesmo. Como dizem por aí: “na banguela”.

A sua esquerda, o lado oposto da pista e os poucos carros que por ele passavam apressados e com faróis altos naquela noite. A sua direita, um penhasco aparentemente sem fundo se não fosse as ilusões da noite. Olhando para o horizonte as luzes da cidade brilhavam sem parar, quase ofuscando seus olhos.

Aumentou o volume de seu toca fitas “roadstar” para o máximo com o som de Bob Dylan rolando e acelerou mais seu carro movendo o volante lentamente para a direita, sem que, nem por que avançou em direção ao penhasco. O carro caia ferozmente enquanto ele olhava para aquelas luzes e, antes mesmo que elas se apagassem, apagou para o mundo, de uma vez por todas, a sua luz.

1.4.07

Dialética do Cansaço


Enquanto ela escrevia em um papel algumas anotações de um livro que estava lendo, a ponta de seu lápis comum se quebra. Naquele instante, meio sonolenta e enfadada após horas a fio de tanta leitura científica, descobriu que era hora de parar um pouco. Espreguiçou-se longamente, bocejou e olhou com um olhar perdido no nada para a mata que se estendia a sua frente. Por um momento, olhando aquele verde exuberante que saltava da janela da biblioteca e se movia com a batida do vento, pensou consigo mesma: “não posso parar”. E retomou o texto.

Após algumas horas de leitura, resolveu voltar para casa e com a cabeça pesada de tantos manifestos, materialismos, proletários, burgueses, capital, conflito, camponeses, condições sociais, exploração, modernidade, economia, capitalismo, trabalho, feudalismo, barulhos, conversas alheias, a mulher chata da biblioteca... apaga na sua cama depois de um longo bocejo para sonhar com Marx e Engels discutindo sobre manifestos, materialismos, proletários, burgueses...

25.3.07





A noite


E lá vinha ela caminhando na chuva tranquilamente. Sabia que não ia parar de chover tão cedo, então abraçou seu caderno contra os seios na tentativa de protegê-lo e seguiu caminhando tranquilamente na chuva que desabava do céu naquela noite de sexta-feira.

Enquanto caminhava ia pensando na vida e a vida passando por ela. Não se preocupou com nada, apenas seguiu seu caminho em direção agora já ignorada. Saiu na noite escura e chuvosa, queria apenas andar, andar... dizem que, à noite, a cidade se mostra com toda sua beleza, toda sua nudez, todo seu frescor, toda malícia e todos os perigos estão lá, dentro da noite.

Já se encontrava toda molhada, mas isso não lhe preocupava mais. Quanto mais andava mais sentia vontade de andar. Seguiu descendo as ruas que iam surgindo pela frente, dobrou esquinas, andou pelas calçadas, cruzou ruas e seguiu andando sempre em frente com todos os olhares voltados para ela estranhando tal pessoa perdida na noite com toda aquela chuva que caia.

Eis que então uma música lhe veio à cabeça, sorriu de imediato. Jogou seu caderno num canto qualquer da rua e sentiu todo aquele momento intensamente em seu corpo correndo como sangue quente nas suas veias. Olhou para o céu levando os braços em direção as nuvens, sentiu os pingos que caiam no seu rosto e, tomada por essa felicidade inexplicável, começou a se despir. Foi tirando peça por peça de sua roupa até ficar completamente nua. Não se importou com ninguém ali. Enquanto a chuva caia, ela dançava na noite debaixo dos olhares que não entendiam nada do que viam. Corria e gritava completamente nua naquele momento de êxtase total até a chuva parar. Ao findar da ultima gota, pegou sua roupa espalhada no chão, vestiu-se e foi embora.

Dizem que, à noite, a cidade se mostra com toda sua beleza, toda sua nudez, todo seu frescor, toda malícia e todos os perigos estão lá. Agora mais do que nunca ela sabia disso.

18.3.07

ImagensImagensImagensEmaisEmaismaismais...

Algumas fotos do Sarau Poético realizado na AUS (Associação dos Universitários Santa-ritense) no último sábado, 17 de março de 2007.







Poesia: Humberto Filho declamando alguns versos.











Teatro: Apresntação do espetáculo "Vozes da Agonia"













Música: Fabiano e Geanne apresentando, entre outras, algumas
poesias musicadas.














A galera: o pessoal presente na comemoração parou para ler as poesias.











Música e Poesia: Ari (no violão) e Humberto.





A galera: um pouco de conversa, um pouco de vinho e a janela
que convida para uma olhada na praça logo a frente. Tirando a fumaça
e a poluição sonora que vinha do lado de fora o resto estava legal.

















Se... meus pés pudessem ler...















A galera: muito a vontade...















A galera: gente bonita por toda a parte...
uns mais que outros, é claro!

16.3.07

Convide sua Poesia para um sarau poético


Neste sábado, dia 17, haverá na AUS (Associação Universitária Santa-ritense) a comemoração do Dia Nacional da Poesia. Na verdade, este dia é comemorado no 14 de março, o pessoal resolveu transferir a comemoração da data para o sábado por ser um fim de semana e ficar melhor para todos.

Na ocasião haverá sarau poético, exposições de poesias, apresentação de uma peça, voz e violão entre outros... O evento, além de comemorar a data e abrir um espaço para divulgação da produção cultural dos estudantes santa-ritense, é também uma forma de trazer de volta o universitário para a AUS e movimentar aquele espaço ocioso por longas datas.


Local: AUS, localizada no centro de Santa Rita em frente a praça Getúlio Vargas.

Data: 17/03/2007

Hora: 18h00


Apareçam!

11.3.07

Reeeeeeeeeeepetino:

Dia 14 de março é o dia nacional da poesia.
Você já fez a sua hoje?



enquanto isso:



Acontecimentos

O que me move

É pensar que o amanhã

Virá

E talvez traga consigo a noite e o dia

O belo e o feio

A dor e o alívio

O amor e o ódio

A esperança e a certeza

A vida e a morte.

Momento

Sentado ali, olhando aqueles homens trabalharem enquanto comia meu pão com Fanta laranja, fiquei observando a paisagens que se modifica lentamente pelas mãos dos homens que constroem o futuro. Nas proximidades, árvores muitas árvores.

Tijolo por tijolo os homens iam erguendo a parede, outros cavavam buracos e ao lado carros, motos e pessoas que passavam com um olhar curioso. Eu, agora, apenas observador fiquei sentado onde estava, no ócio que se segue após a refeição das 12h30.

Homens de capacetes amarelos peneiravam a terra, removiam areias, esticavam fios enquanto uma cigarra ziava numa árvore próxima e o alarme de um carro disparava ao lado. Do verde da mata saiam cantos que só a natureza em toda a sua intimidade poderia produzir. Parecia que competiam entre si, era um respondendo o outro: cantos de acasalo, cantos de briga, demarcação de território, cantos para hipnotizar suas presas...

Ali bem próximo, outro canto soava: a batida da colher do pedreiro nos tijolos, o peneirar dos trabalhadores, a batida do martelo nos pregos, o som das pedras umas sobre as outras...

A cada dia que se passa, as paredes daquele edifício da burocracia estão mais altas. Dentro de poucos dias estará entregue para seu devido fim. Após a mordida de uma formiga no meu dedo esquerdo do pé, vou embora com os dois cantos na minha cabeça.

3.3.07

14 de Março - Dia Nacional da Poesia


Olá Pessoal,

Dia 14 de Março é o dia nacional da poesia! E você já fez a sua? Às vezes tento...

Algumas Palavras

O silêncio das Pedras

Escutas tudo ao teu redor
E nunca dizes nada
Um mundo de sons que explodem
A tua volta
Contrapõe o infinito silêncio
Que se cala a cada instante
Dentro de ti.


Na Contramão


O meu sentido
Não faz sentido pra você
Estou na contramão de suas expectativas

Tentar me entender é perca de tempo
Já não faço o mesmo em relação a você
Em relação a você, já não tenho saída
Em relação a mim
Tenho todo o mundo de possibilidades.

26.2.07

Ontem à noite...


Visitei a casa da Morte,
Levei um papo com a Loucura,
Joguei baralho com a Sorte,
Fumei um cigarro com a Ternura.

Bebi com Embriaguez,
Discuti com a Amargura,
Duvidei da Sabedoria,
Soltei as correntes da Censura.

Filosofei com o Equilíbrio,
Ri do Medo,
Fiz amor com a Curiosidade
Até bem cedo.

Tomei um café com a Gentileza,
Duvidei da Felicidade,
Assisti TV com a Tristeza
Passeei com a Maldade.

Fui cúmplice do Caos,
Parceiro da Desordem,
Amigo da Revolta
Me desentendi com a Ordem.

Chorei com a Dor,
Me despedi da Sorte,
Sorri com o Humor,
Fugi sem um Norte.

Amanheceu bem cedo,
Acordei com amargura,
Tive raiva da mentira,
Por ter sonhado tamanha aventura.


Pequenas Histórias


nº 7 (ou O Perfume)


Sentiu um cheiro de perfume no ar. Aquilo lhe agradou no mesmo instante. Estava no segundo andar de sua loja, um sebo que fica no centro da cidade, quando de repente aquele odor invade o estabelecimento bolorento fazendo-o parar no mesmo instante tudo que estava a fazer. Por certo, tinha um bom olfato para sentir assim de longe tal aroma.

Por um momento fechou os olhos e inspirou fundo soltando o ar em seguida de forma agradável. Quando deu por si, correu os olhos para a porta da loja para ver de onde vinha tal fragrância. Tarde demais! Há poucos segundos atrás balançava o sininho pendurado por trás da porta, acusando a saída da pessoa dona do perfume. Ficou com o cheiro guardado em algum canto misterioso de sua cabeça. Durante semanas a fio, parava o que estava fazendo para se concentrar naquele cheiro evocado de algum lugar de sua mente. Continuou trabalhando.

A verdade é que tinha ficado obcecado em descobrir a quem pertencia tal cheiro. Nunca antes tinha ficado interessado por essas coisas, na verdade muito mal usava perfumes; não tinha essa mania e nem sentia necessidade. Naquele mesmo dia perguntara a um funcionário sobre esta pessoa misteriosa dona do perfume. Este lhe respondeu que não a viu direito, que só sabia que era uma mulher. Ficou com este pensamento na cabeça: “uma mulher!”. Imaginara mil formas e só uma característica lhes eram comuns: o perfume. Ficou pensando se ela gostava de livros assim como ele; quais seriam seus autores preferidos; seus livros preferidos; se gostava mais de romance, aventura, ficção, filosofia... Ficou a pensar se ela teria as características intelectuais compatíveis com as dele: um homem culto e pequeno empresário dono de livrarias e sebos. Um homem solteiro a procura de uma mulher para dividir, além do amor, é claro, o fardo do dia-a-dia.

Naquela tarde, tinha saído para pagar umas contas e confiou a loja a seu funcionário dizendo: “daqui à uma hora estarei de volta”. Não muito tempo depois, uma pessoa armada entra na loja e rouba o dinheiro do caixa. Não havia grande quantia lá, sabia que este não é o tipo de negócio que dá muito dinheiro, pois o homem não é chegado à leitura assim como as compras num shopping, por exemplo. Mas sabia, principalmente, que naquela loja estava o cofre no qual o dono guardava todo o seu dinheiro. Este, por sua vez, sempre pensava: “quem irá imaginar que aqui, em meio as traças e livros, há um cofre?” Só não imaginava que um dia fosse traído por seu funcionário.

Estava tudo combinado: o funcionário sabia a senha do cofre que descobrira misteriosamente. Forjou o assalto para sair limpo na história. Só não esperava ser assinado no calor dos acontecimentos. Ao voltar de seus compromissos, o dono da loja sente aquele mesmo perfume no ar e sai como louco a procurar a sua dona. Pouco mais a frente percebe o cadáver de seu funcionário estirado no chão e sente seu corpo ser perfurado por uma bala. Logo em seguida vem outro disparo. Nesse instante começa a soar frio e sente seu corpo fraquejar. Tenta se virar, mas as pernas já não atendem mais aos comandos da mente e com muita dificuldade se volta para sua assassina. Vai buscar as ultimas forças que ainda possui para se dirigir até ela.

Agora, tinha certeza que era uma mulher. Aquela pessoa bem a sua frente segurando uma arma com as duas mãos quase trêmulas não deixara dúvidas: “era ela!”, pensou ele. Apoiava-se no que via pela frente na tentativa de se aproximar o mais que pudesse para ver aquele rosto, era este o último grande empenho de sua vida. Ao chegar frente a frente à assassina, que estava com o rosto coberto, olhou bem nos seus olhos e num último esforço tentou tirar o pano que cobria seu rosto quando sentiu o último disparo.

Com o pano na mão, olhava para aquele rosto tentando guardar aquela ultima imagem para sua morte, mas já não via mais nada. Sua vista começara a ficar turva. Apelando para seus últimos sentidos, inspirou o mais que pode aquele ar perfumado que exalava daquela pessoa misteriosa, sorriu um sorriso de moribundo caindo seu corpo logo em seguida no chão duro.

Morreu sem ter visto o rosto de sua assassina. E se vivesse para contar a história, ter-lhe-ia perdoado tal feito. Desse mundo miserável não levou nada: nem dinheiro, nem livros, nem casa, nem a imagem dela, nada! Apenas o perfume.

19.2.07



Pequenas Histórias


nº 6


Na pacata cidade de Albarã vivia seu Aroldo. Farmacêutico não por formação, mas por tempo de trabalho e experiência. Aprendera com o pai o ofício de doutorar e se orgulhava de nunca ter passado um remédio errado ou até mesmo de nunca ver ninguém morrer por conta de suas orientações médicas. “É claro que quando é chegado a hora e Deus quer levar um dessa terra, não tem remédio que dê jeito”, dizia ele em alto e bom som nas conversas em sua farmácia nas horas de ócio.

Qualquer doença na cidade era com ele mesmo. “Chama seu Aroldo que ele resolve” dizia o povo da cidade quando uma criança, um jovem ou um velho adoecia. Também era rezador e tirava mal olhado, quebrante, olho gordo, vento ruim, maleita e impaludismo; bruxaria, feitiçaria e espírito mau; espírito atrasado, malvadeza, rastro apanhado e credos encruzados. Bastava uma olhada rápida na pessoa e como que visse algo além, disparava na hora: “você ta precisando de reza”. Pra qualquer tipo de problema, seu Aroldo tinha a solução: pegava um ramo de planta que tinha no quintal e ia benzer o enfermo até o galho murchar. Depois dava uns conselhos do tipo: “evite posicionar a cama na frente da porta do quarto”, “coloque uma fita vermelha na maçaneta da porta e na cama” e “coloque um crucifixo em cima da porta do quarto pra abençoar e proteger. E agora vá com Deus e Nossa Senhora”.

Seu Aroldo era tão requisitado que quando os médicos diplomados de outras cidades vizinhas não davam jeito no moribundo, mandavam (meio que a contragosto, é claro) a família procurá-lo em Albarã. Nas suas visitas diárias deixava um rapaz (seu aprendiz e único herdeiro de seus conhecimentos) na farmácia e ia ver qual era o problema.

Acontece que um dia, depois de fortes chuvas que caíram nas redondezas, o rio que passa bem ao lado da cidade transbordou e a população se viu em desespero. Foi como num piscar de olhos: o rio invadiu a cidadezinha levando tudo pela frente, alagando casas, lojas, prefeitura e nem as imagens dos santos no altar da igreja ficou de fora. Teve até uma beata que jurava que foram as lágrimas de São Pedro, que chorou por conta dos pecados da humanidade, que inundou a cidade.

Neste dia, seu Aroldo estava na farmácia. Era um dia chuvoso e bucólico, sem muita agitação. De uma hora pra outra percebeu a correria das pessoas e a água que tomava toda a cidade. Não pensou duas vezes: fechou a porta de sua farmácia e se trancou lá dentro. A água engolia a cidade com feroz rapidez, parecia mesmo um dilúvio que caia do céu. Pela janela seu Aroldo via a água subir e pelas brechas jorravam feito cachoeira. Neste instante, lhe bate um desespero. Ele olha todos aqueles remédios ao seu redor, as marcas pareciam gigantes nos frascos como se rissem da cara dele; podia mesmo ouvir as gargalhadas, cada uma de jeito. Acetil Aspartilglutamato, Hexomedine, Ciclopirrolona Acido Fólico, Daforin, Bamifilina, Albendazol, Deprozol, Probenecida, Bamifilina e tantas outras, numa sinfonia ensurdecedora, zombavam dele e daquela situação ridícula. Em meio a tudo isso, a água não parava de subir e seu Aroldo já não podia mais ouvir os risos, via apenas as caixas dos remédios boiando e rindo para ele debaixo d’água.

Seu Aroldo, logicamente, morreu num desespero agonizante e com um pensamento na cabeça: “tanto remédio ao meu redor e nenhum deles pode salvar minha vida agora”. Tempos depois do ocorrido toda a população lembrava-se da máxima de seu Aroldo: “quando é chegado a hora e Deus quer levar um dessa terra, não tem remédio que dê jeito”.


Pequenas Histórias


nº 5


Na vitrola um disco girava sem parar. Tinha chegado ao final do lado A e o braço da agulha ficou lá no canto rasgando os sulcos do LP velho e arranhado.

O volume estava alto e se ouvia de longe o chiado provocado pelo atrito da agulha. Bati na porta mas ninguém atendeu. Depois de um tempo, percebi que estava aberta e entrei. Chamei pelas pessoas da casa e ninguém respondia e fui entrando. Estranhei aquilo tudo, parecia que não havia ninguém ali. Quem deixaria a porta de casa aberta com um som ligado assim nas alturas?

Insisti e chamei mais alto, bati palmas e até gritei. Quando já estava desistindo e virando as costas para partir, alguém aparece. Com um sorriso meio sem graça pedi desculpas e falei... Ela disse pra eu virar o outro lado do disco e me pediu pra lhe acompanhar. Tinha uma fumaça por toda parte e do quarto em que ela entrou brilhava uma luz forte. Ouvi apenas sua voz dizendo “vem!”. Num ultimo instante percebi que o som que girava na vitrola era um chiado constante que, a primeira audição, parecia chato e incomodava; mas depois, como se multiplicassem e se misturassem, ouvia-se bem uma música se formar estranhamente no ar. Nesse instante, sou engolido pela luz que sai do quarto e como se o chão e todas as paredes sumissem, caio no vazio e apago.

Voamos alto. Ninguém nos percebia. Era como se fossemos deuses, o gozo dos deuses. Bebemos da bebida proibida e fizemos tudo que não era permitido. Acima do bem e do mal; do certo e do errado; do sim e do não; do verdadeiro e do falso; do nada e de tudo... tínhamos poderes sobre o ontem, o agora e o amanhã. Éramos tanto homem como mulher, tanto filho como pai, tanto homem como animal...

Uma voz bem distante parecia chamar por alguém já há um bom tempo. Voltei. Olhei em seus olhos e pedi pra que ele virasse o outro lado do disco e que me acompanhasse. Mais uma pessoa iria se encontrar com o deus que até então estava reprimido dentro dela.

Pequenas Histórias


nº 4


Abriu a porta com a mão trêmula fechando-a rapidamente e sentou-se na primeira cadeira que viu na sua frente. Acendeu um cigarro e logo em seguida encheu o copo de Rum e deu um trago de uma só vez.

Se perguntava como teve tanta coragem para fazer o que fez. Ficou imaginando o noticiário do dia seguinte nas páginas policiais exibindo sua foto e detalhando todo o ocorrido, além do pouco mais que os repórteres sempre acrescentam para vender a notícia. Correu para o banheiro. Lavou as mãos jogando a água no rosto na tentativa de limpar de sua cabeça a lembrança do acontecido da ultima meia hora.

Não tinha jeito. Sabia que iria enlouquecer se ficasse dentro daquele apartamento fechado junto com seus fantasmas. Num instante de loucura, saiu correndo para uma delegacia mais próxima e contou tudo o que se passou ao delegado. Este, não acreditando no que ouvia, mandou que alguém fosse averiguar o caso. Mesmo após confessar o que se passara, não teve sossego. Seus olhos percorriam a sala fedorenta a cigarro como se procurasse algo, como se quisesse ver outra coisa que não fosse as imagens que insistiam em surgir em toda parte em que olhava. Escutava as vozes do corredor e as pessoas passando e aquele barulho infernal de delegacia tumultuada. O delegado percebeu a agitação dele e num vacilo seu o acusado pega a arma que estava sobre a mesa e dá um tiro na cabeça.

No outro dia, nas páginas policiais, a história é narrada com todos os detalhes possíveis. Além do pouco mais que os repórteres sempre acrescentam para vender a notícia.