19.12.07


O som rolava ao fundo enquanto discutiam:

- Eu sei, a conversinha é essa!
- Ah, to falando sério!
- E você acha que eu vou acreditar, é?
- E porque não? Alguma vez já menti?
- Hã...
- Ah, teve só aquela vez. Mas foi só.
- Aquela e aquelas outras que eu ainda não sei.
- Nada, tô falando sério.
- E eu também!
- Oh, amorzinho...
- Amorzinho a PUTA QUE PARIU! Eu sei qual é a sua, viu?!

Nesse instante, o lado B do vinil chega ao fim e a agulha engancha num arranhão bem no final da ultima música. Alguém precisa virar o outro lado rapidamente, aquele chiado infernal incomodaria até mesmo uma pedra.


- Ah, vai lá que agora é sua vez.
- Não, eu que fui da ultima vez!
- E foi bunitinho? Lembra que fui eu que escolhi este som e você que queria aquele outro ali?
- Ta, ta... eu vou.


A primeira música do lado A começa a tocar. Para se certificar que o vinil não vai enganchar, coloca uma moeda de 50 centavos em cima do braço da agulha.


- E aí mozinho? Até o clima da música está a nosso favor, não acha?
- Sei não...
- Ah, vamos lá, vamos tentar!
- Vamos tentar... É porque não é você; se fosse, eu queria ver!
- Pô... mozinho, Eu sei... É só a cabecinha!
- CABECINHA DE CÚ É ROLA! Tá pensando que eu não sei não, é?


Depois de muita insistência, fica decidido que pode ser:

- Ai!
- Pera!

- Vai, vai... Ta bom, ta bom!

- Pera!

- Pera UM CARAI, PORRA!

- Mas eu tô fazendo com carinho, mozinho!! Foi só 1 por cento!

- 1 por cento foi o que ficou de fora, cê tá doido, é?

- Nada... impressão sua!

Nesse instante, termina o lado A do vinil. Decidiram que não dava mais por hoje e pararam. Como o braço da agulha não voltava automaticamente quando acabava, o toca discos continuou girando. O silêncio dos dois tinha como fundo apenas o chiado da agulha. Após um tempo, alguém toma uma decisão:

- Aonde cê vai?
- Vou ali
- Ali aonde?
- Vou comprar cigarros e volto logo.
- Cigarros?
- É!
- Mas você nunca fumou!?
- ...

Bateu a porta e foi embora. E ainda tem gente que ainda acredita na história do cigarro.

16.12.07

...

No bolso uma poesia
E molhado de vermelho
Quase sem força
Percorre o seu corpo com as mãos trêmulas

Nos seus olhos
O desespero de quem reúne
As últimas forças
Para o ultimo gesto

Vai se empalidecendo e os olhos
Arregalados percorrem
O espaço em volta prestando
Bem atenção em cada rosto

O desespero dos outros
Causava-lhe mais medo

Ao achar suas ultimas palavra
Ainda havia forças
Para o ultimo pedido:
Publique!