5.7.11

Os pássaros


Quando chega o fim da tarde, os passarinhos ficam ouriçados e os galhos das árvores são poucos para tantos deles que, desesperados, procuram um lugar antes do por de sol.

Seus cantos formam uma malha sonora que se estende ao redor da árvore chamando a atenção do homem, da mulher e do gato.

Em dias de forte sol, os pássaros, depois de um longo dia voando de um canto para outro, namorando com o tempo e com seus iguais, além de cuidar de seus ninhos e filhotes, retornam para seus galhos. Cansados, cantam melodias na língua dos pássaros só acessíveis aos bichos desta espécie. Nós, humanos, achamos que ouvimos tudo com nossos ouvidos limitados. Mas, a ciência que estuda o canto dos pássaros – a Audiopasseriformologia – já comprovou, inclusive com artigos publicados na Revista Nature, aquilo que tudo mundo já sabia: nosso sistema auditivo é limitado e não ouvimos nem a metade da beleza do canto das aves.

Estes bichos, que não foram esquecidos pela arca de Noé, cantam melodias numa agitação ao quadrado (representação: 2). Acontece que lhes abate uma tremenda confusão em seus miolos primitivamente desenvolvidos quando é dia de chuva. Nestes dias, e principalmente durante todo o inverno, os pássaros não sabem ao certo nem quando devem correr para os galhos das árvores e nem até quando devem cantar seus cantos agitados, pois o tempo nublado gera uma confusão quanto aos limites do crepúsculo.

De toda forma, seguem cantando, pois a noite tarda mas não falha. E eles descansam até o primeiro sinal da alvorada.

E por falar em música, a música que nós humanos escutamos e que eles mais gostam é “As árvores”, de Arnaldo Antunes. Me confessou um deles um dia desses.