Parou pra pensar na sua situação. Acabou chegando a conclusão de que não havia muita coisa a fazer. Vinha bebendo aos poucos daquela água doce, sabia do perigo. A embriaguez poderia vir veloz e durar um olhar ou um sorriso, mas poderia também fazer morada e não querer sair mais.
Com o copo na mão a pensar, sua boca salivava e seus olhos brilhavam só de sentir o cheiro. Então, pensou como das outras vezes: ao invés de tomar um porre, me embriagarei aos poucos. O homem, ser racional, quase nunca se dá por satisfeito. Conhece o perigo e anda ao seu lado desafiando-o e chegando muitas vezes próximo à linha imaginária que divide o sim e o não, o falso e o verdadeiro, o correto e o errado, a razão e a loucura, o prazer e a dor, a vida e a morte, o amor e o ódio. É só então que do corpo surge a vontade. A cabeça, imediatamente, diz que não! E num terceiro momento parece haver um consenso entre as partes: é só mais essa e depois eu paro!
A embriaguez veio veloz e durou o tempo de um olhar e de um sorriso, mas fez morada e se recusou a ir embora.
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Ps.: "É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar"
(Gilberto Gil)