2.12.11

Convergir


Quando eu rio, você oceano. E me deságuo todo em você em slow motion. E te transbordo no prazer da convergência, neste eterno retorno dos encontros e desencontros dos nossos cursos. Conheço cada um dos seus cinco nomes, sua imensidão e profundidade. Conheço cada região desse corpo dividido por entre continentes.
Tenho ciúmes dos que navegam por suas águas; nenhum deles conhecem seus segredos, nenhum deles te provocam um tsunami.

2.11.11

Confuso

Sem mais a dizer
digo apenas o que excesso
o que não cessa
de correr
em letras
palavras
em léxico
confuso
sempre sem
sempre em falta
em falta comigo

Porque não me diz
porque não me supre
porque não me basta
por isso
invento
esse verso
essa rima
por isso
intento
contra mim mesmo
no branco da folha
no banco da praça
pensando palavra
na ponta do dedo
que vem como música
que vem como fúria.

19.9.11

Mensagens na garrafa




Escrevo mensagens e lanço ao mar
Palavras perdidas na imensidão
Talvez cheguem a algum lugar
Talvez não

Caso aconteça positivo
E cheguem a destino certo
Por aqui estarei pensativo
Talvez um pouco inquieto

É que entre as palavras há um mar de incompreensão
E se incompreendido serei
Devolva-as ao mar então

28.8.11

Flor da noite

Quis a natureza misteriosa
Que no meu jardim nascesse flor tão formosa
Quanto perigosa.

Armadilha que estende sua raiz
No mais profundo de nós
Criando nós profundos.

Sob a luz da lua e o silêncio da noite
Ela surge. Beleza rara feita para poucos olhares
Quase não aparece...

Deixa mensagens estilo hieróglifos:
decifra-me ou devoro-te.


5.7.11

Os pássaros


Quando chega o fim da tarde, os passarinhos ficam ouriçados e os galhos das árvores são poucos para tantos deles que, desesperados, procuram um lugar antes do por de sol.

Seus cantos formam uma malha sonora que se estende ao redor da árvore chamando a atenção do homem, da mulher e do gato.

Em dias de forte sol, os pássaros, depois de um longo dia voando de um canto para outro, namorando com o tempo e com seus iguais, além de cuidar de seus ninhos e filhotes, retornam para seus galhos. Cansados, cantam melodias na língua dos pássaros só acessíveis aos bichos desta espécie. Nós, humanos, achamos que ouvimos tudo com nossos ouvidos limitados. Mas, a ciência que estuda o canto dos pássaros – a Audiopasseriformologia – já comprovou, inclusive com artigos publicados na Revista Nature, aquilo que tudo mundo já sabia: nosso sistema auditivo é limitado e não ouvimos nem a metade da beleza do canto das aves.

Estes bichos, que não foram esquecidos pela arca de Noé, cantam melodias numa agitação ao quadrado (representação: 2). Acontece que lhes abate uma tremenda confusão em seus miolos primitivamente desenvolvidos quando é dia de chuva. Nestes dias, e principalmente durante todo o inverno, os pássaros não sabem ao certo nem quando devem correr para os galhos das árvores e nem até quando devem cantar seus cantos agitados, pois o tempo nublado gera uma confusão quanto aos limites do crepúsculo.

De toda forma, seguem cantando, pois a noite tarda mas não falha. E eles descansam até o primeiro sinal da alvorada.

E por falar em música, a música que nós humanos escutamos e que eles mais gostam é “As árvores”, de Arnaldo Antunes. Me confessou um deles um dia desses.

18.4.11

Sorriu em preto e branco
para a menina do outro lado
que navegava por entre bytes profundos
há quilômetros de distância.
Vai saber o que se passava naquela cabeça
de moça confusa.
Talvez estivesse pensando em algo imensurável,
pois naquela noite a chuva bem que arriscou
mas não caiu.
E o silêncio reinou absoluto.



Emendando:


Silêncios


Há um silêncio de antes de abrir-se um telegrama
[urgente
há um silêncio de um primeiro olhar de desejo
há um silêncio trêmulo de teias ao apanhar uma
[mosca
e
o silêncio de uma lápide que ninguém lê.


(Mario Quintana)

13.4.11

Um donatário, entre outros...

Este coração dividido em capitanias hereditárias, com direito a Carta de Doação e Foral, só não estabeleceu ainda a parte que me cabe enquanto capitão donatário.


emendando:


"... Se seu corpo ficasse marcado
Por lábios ou mão carinhosas
Eu saberia a quantas você pertencia
Não vou me preocupar em ver
Teu caso não é de ver pra crer".

Mora Na Filosofia
(Monsueto/Arnaldo Passos)

25.3.11

Um pouco de Quintana


Da agitação da vida


Lida no doido afã!
Vamos! Investe, vai contra os moinhos de vento!
Um dia tu verás que tudo é sombra
vã,
Tênue fumo que a morte assopra
num momento...

9.3.11

Mentiras Sinceras me interessam...

Antes de mais nada: Era noite, 02 de fevereiro de 2011... Na cozinha da casa de Sandrinha, ao lado da máquina de lavar, eu (Fabiano), Geanne Lima e Adriana Caires conversávamos sobre a vida, relacionamentos e coisa e tal. Sonzinho rolando no PC... Entre um gole e outro de cerveja Nobel (hein?) revezávamos a escrever estas linhas...

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Mentiras Sinceras me interessam...


Você nasceu no final, enquanto o pano caia, posso ver que está confuso, mas está tudo bem, são apenas o repicar dos sinos anunciando um novo tempo. Você vê agora, barcos estão cruzando, desertos, oceanos instalam-se com calor. Pessoas se afogam em gotas de chuva, mas está tudo bem, isso não é uma derrota, apóie-se nos seus próprios pés. Exatamente agora o sol não brilha porque está encharcado com vinho. Apesar do que eu posso rir no meio da tempestade porque eu nasci quando o sol costumava brilhar em fevereiro.

Eu não sou amigo de beira de estrada. O sotaque é novo, mas me conforta. Melhor do que sua cara velha batida. Eu não tenho TPM, mas o cigarro tá acabando e é quase a mesma coisa. Eu não sei usar drogas, apenas você. Apenas você...

Caetano, às vezes, acerta...

Você não pediu licença poética para fazer rimas sobre o meu coração. Você roubou o que há de melhor em mim e pior, não alimentou a minha alegria de te ver passar. Agora estou aqui, sem rimas e nem versos que complete o meu amor. Mas a tua indelicadeza é apenas o insuficiente para alimentar a compreensão de tudo o que acontece entre nós. Então, hoje tudo me basta, até o cigarro que acabou se esgotando de tanto fumar. Até a maconha que nem sequer existiu entre nós essa noite. Até a paranóia de tentar compreender teus desejos mais insanos. Até o beijo que pensei em te dar foi interrompido – como um coito que é apenas a metade do que poderia ter sido completamente absoluto.

E agora o que resta? O desejo de realizar, a vontade de sentir, de te querer, de te amar e de te provar que a minha insatisfação é apenas o que me instiga a continuar do teu lado.

Agora tua loucura de viver complementa o meu desejo de querer te provar que o meu bloco ainda vai passar e vai continuar a brilhar nessa passarela que é a vida.

Sou a rainha do Egito

Sou a filha do Faraó

Sou uma dessas meninas que namoram a lua e o sol

A sorrir eu pretendo levar a vida...



Ps.: O primeiro parágrafo acima é uma música de Raul Seixas que Geanne escreveu na hora.

20.2.11

Na margem do poço (ou poética espacial)


À beira da escuridão existem sóis de vidas incompletas que buscam nas unhas as rachaduras do solo seco e fértil da natureza. Na fraqueza interior, um copo me pede um gole aflito que possa acabar com minha agonia. Minhas unhas agradecem e meus dentes não mais irá pôr nos lábios a mesma terra que me diz incerto. Restam-me copos de certezas daquilo que desejo.

Então deixo o balão voar. Livre e pensante e embriagado. Depois disso eu só sinto. O vento, a lua, o beijo... o copo e o gole. E viajo... viajo.

E eu tento transcender a tudo que vocês sentem. A realidade plena é aquela que a gente cria no interior de si. E isso ninguém nos tira porque é a outra forma de ver o mundo.

E como não ceder? Me digam vocês especialistas. Senhores da sabedoria, me digam. Quando olho vejo a mesma medida. Quando cheiro, sinto um perfume estranho e gostoso. Sim, eu sei. Você...

...Você que ficou preso dentro de si e esqueceu que faz parte do mundo, solte suas asas e corra para o horizonte que ele ainda é seu; assim como meu.

não sei...

fragmentos lugares ares lares cal. areia quintal

poética espacial.



Ps.: Poema/texto escrito numa máquina de escrever em um dia de festa, alegria e inspiração. Responsáveis: Fabiano, Geanne Lima, Ranieri, George Ardilles e Clareanna Santana.