3.3.07

14 de Março - Dia Nacional da Poesia


Olá Pessoal,

Dia 14 de Março é o dia nacional da poesia! E você já fez a sua? Às vezes tento...

Algumas Palavras

O silêncio das Pedras

Escutas tudo ao teu redor
E nunca dizes nada
Um mundo de sons que explodem
A tua volta
Contrapõe o infinito silêncio
Que se cala a cada instante
Dentro de ti.


Na Contramão


O meu sentido
Não faz sentido pra você
Estou na contramão de suas expectativas

Tentar me entender é perca de tempo
Já não faço o mesmo em relação a você
Em relação a você, já não tenho saída
Em relação a mim
Tenho todo o mundo de possibilidades.

26.2.07

Ontem à noite...


Visitei a casa da Morte,
Levei um papo com a Loucura,
Joguei baralho com a Sorte,
Fumei um cigarro com a Ternura.

Bebi com Embriaguez,
Discuti com a Amargura,
Duvidei da Sabedoria,
Soltei as correntes da Censura.

Filosofei com o Equilíbrio,
Ri do Medo,
Fiz amor com a Curiosidade
Até bem cedo.

Tomei um café com a Gentileza,
Duvidei da Felicidade,
Assisti TV com a Tristeza
Passeei com a Maldade.

Fui cúmplice do Caos,
Parceiro da Desordem,
Amigo da Revolta
Me desentendi com a Ordem.

Chorei com a Dor,
Me despedi da Sorte,
Sorri com o Humor,
Fugi sem um Norte.

Amanheceu bem cedo,
Acordei com amargura,
Tive raiva da mentira,
Por ter sonhado tamanha aventura.


Pequenas Histórias


nº 7 (ou O Perfume)


Sentiu um cheiro de perfume no ar. Aquilo lhe agradou no mesmo instante. Estava no segundo andar de sua loja, um sebo que fica no centro da cidade, quando de repente aquele odor invade o estabelecimento bolorento fazendo-o parar no mesmo instante tudo que estava a fazer. Por certo, tinha um bom olfato para sentir assim de longe tal aroma.

Por um momento fechou os olhos e inspirou fundo soltando o ar em seguida de forma agradável. Quando deu por si, correu os olhos para a porta da loja para ver de onde vinha tal fragrância. Tarde demais! Há poucos segundos atrás balançava o sininho pendurado por trás da porta, acusando a saída da pessoa dona do perfume. Ficou com o cheiro guardado em algum canto misterioso de sua cabeça. Durante semanas a fio, parava o que estava fazendo para se concentrar naquele cheiro evocado de algum lugar de sua mente. Continuou trabalhando.

A verdade é que tinha ficado obcecado em descobrir a quem pertencia tal cheiro. Nunca antes tinha ficado interessado por essas coisas, na verdade muito mal usava perfumes; não tinha essa mania e nem sentia necessidade. Naquele mesmo dia perguntara a um funcionário sobre esta pessoa misteriosa dona do perfume. Este lhe respondeu que não a viu direito, que só sabia que era uma mulher. Ficou com este pensamento na cabeça: “uma mulher!”. Imaginara mil formas e só uma característica lhes eram comuns: o perfume. Ficou pensando se ela gostava de livros assim como ele; quais seriam seus autores preferidos; seus livros preferidos; se gostava mais de romance, aventura, ficção, filosofia... Ficou a pensar se ela teria as características intelectuais compatíveis com as dele: um homem culto e pequeno empresário dono de livrarias e sebos. Um homem solteiro a procura de uma mulher para dividir, além do amor, é claro, o fardo do dia-a-dia.

Naquela tarde, tinha saído para pagar umas contas e confiou a loja a seu funcionário dizendo: “daqui à uma hora estarei de volta”. Não muito tempo depois, uma pessoa armada entra na loja e rouba o dinheiro do caixa. Não havia grande quantia lá, sabia que este não é o tipo de negócio que dá muito dinheiro, pois o homem não é chegado à leitura assim como as compras num shopping, por exemplo. Mas sabia, principalmente, que naquela loja estava o cofre no qual o dono guardava todo o seu dinheiro. Este, por sua vez, sempre pensava: “quem irá imaginar que aqui, em meio as traças e livros, há um cofre?” Só não imaginava que um dia fosse traído por seu funcionário.

Estava tudo combinado: o funcionário sabia a senha do cofre que descobrira misteriosamente. Forjou o assalto para sair limpo na história. Só não esperava ser assinado no calor dos acontecimentos. Ao voltar de seus compromissos, o dono da loja sente aquele mesmo perfume no ar e sai como louco a procurar a sua dona. Pouco mais a frente percebe o cadáver de seu funcionário estirado no chão e sente seu corpo ser perfurado por uma bala. Logo em seguida vem outro disparo. Nesse instante começa a soar frio e sente seu corpo fraquejar. Tenta se virar, mas as pernas já não atendem mais aos comandos da mente e com muita dificuldade se volta para sua assassina. Vai buscar as ultimas forças que ainda possui para se dirigir até ela.

Agora, tinha certeza que era uma mulher. Aquela pessoa bem a sua frente segurando uma arma com as duas mãos quase trêmulas não deixara dúvidas: “era ela!”, pensou ele. Apoiava-se no que via pela frente na tentativa de se aproximar o mais que pudesse para ver aquele rosto, era este o último grande empenho de sua vida. Ao chegar frente a frente à assassina, que estava com o rosto coberto, olhou bem nos seus olhos e num último esforço tentou tirar o pano que cobria seu rosto quando sentiu o último disparo.

Com o pano na mão, olhava para aquele rosto tentando guardar aquela ultima imagem para sua morte, mas já não via mais nada. Sua vista começara a ficar turva. Apelando para seus últimos sentidos, inspirou o mais que pode aquele ar perfumado que exalava daquela pessoa misteriosa, sorriu um sorriso de moribundo caindo seu corpo logo em seguida no chão duro.

Morreu sem ter visto o rosto de sua assassina. E se vivesse para contar a história, ter-lhe-ia perdoado tal feito. Desse mundo miserável não levou nada: nem dinheiro, nem livros, nem casa, nem a imagem dela, nada! Apenas o perfume.