3.11.06

O Olho Que Se Vê

Pela janela via o movimento. Todo mundo passando de um lado para o outro. Pessoas que andavam sem saber pra onde iriam e o que iriam fazer. Olhos fixos perdidos no horizonte. Sabe-se lá o que pensavam, sabe-se lá pra onde iriam.

A verdade é que iam pra algum lugar, mas da janela não dava pra ver o destino dessa massa de zumbis que caminhavam para o nada. Decidi ir atrás.

Já na rua, ninguém me dava atenção. Fui caminhando também sem destino e pensando comigo mesmo: “pra onde vão?”. Continuei caminhando, sempre em frente. Cada vez mais aumentava o número de pessoas que, sem destino, andavam catatônicas.

O ano era 2074. Após uma grande guerra que uniu os países do Norte do globo terrestre numa só potencia (Os Estados Unidos do Norte) e excluíram os países do Sul, privando-os de toda a tecnologia disponível, o mundo se viu bi partido. O caos se espalhou por toda a parte. Com o esgotamento de matérias primas, que antes de tudo isso acontecer eram enviadas aos montes para os países do Norte como pagamento de dívidas, os países do Sul se encontravam completamente sucateados. Foi uma volta à Idade Média.

Diante desse panorama as pessoas se viram perdidas sem nada, num mundo dividido e com fronteiras vigiadas com câmeras e muros enormes por todos os lados. No meio desse caos era comum encontrar pessoas caídas pelo chão na mais completa miséria, outras brigando por um pão, casas arrombadas...

Continuei seguindo a multidão que se empurrava mais a frente tentando olhar algo. Numa casa, que parecia ser a única, uma televisão ligada. Todos pararam ali a olhar o objeto que apresentava algum programa captado via satélite, privilegio de alguns poucos. Ficaram ali durante muito tempo. Em cada rosto a mesma expressão paralisante.

Do lado Norte do globo, famílias inteiras se aconchegavam em suas salas para assistir o mais novo formato do Big Brother em que os moradores do Sul do mundo eram filmados por poderosas câmeras que apontavam suas lentes do alto do universo em direção a terra.