8.1.09

Começando o ano

Olá pessoal! Esta é a primeira vez que escrevo este ano, ainda estranhando o teclado do computador; como se estivesse desaprendido a ler e sentisse dificuldades ao tentar soletrar algumas palavras... Como se isto fosse possível... Não vou justificar a minha ausência estes dias (ou serão semanas, meses?). Falta de tempo? Falaremos sobre isso mais adiante.

Mas, a verdade é que estas são as primeiras palavras que escrevo em dois mil e nove e isto não deveria ser algo estranho para mim, afinal, apenas passamos de um ano para outro. Tudo certo não fosse essa nova correção ortográfica dos países de língua portuguesa. Daí não sei bem se estou escrevendo certo ou errado. Mas, como temos alguns anos para nos adaptarmos, isto ainda não me preocupa de fato. Me importa mesmo é me fazer entender através do que escrevo e proporcionar-lhes uma leitura tranqüila, mesmo que o computador insista em colocar o trema nas palavras, como vocês mesmo podem observar. E como eu não pretendo brigar com o computador, deixo ele lá, quase imperceptível como sempre foi.


Outra coisa:

Lá em cima falei sobre o tempo (ou a falta dele). Fiquei pensando sobre isso esses dias. Não pelo fato de ter passado alguns dias, semanas, messes... sem ter postado nada aqui no blog por falta de tempo, como ficou sugerido no início do texto. Não é isso.

Esses dias fiquei refletindo sobre esse mundo em que vivemos e a velocidade das coisas, o fato de não termos tempo para nada... É interessante essa paranóia moderna, estamos sempre correndo, correndo... mas para onde? Me lembrei agora de uma poesia que fiz chamada “parem os relógios!” (já postada aqui) que começava assim: Pra quê precisamos marcar a hora de nossa morte? Marquemos então a hora de nossas vidas: parem os relógios!...

É Desta paranóia de que falo. Não temos tempo (ou achamos que não temos) para fazermos até mesmo as coisas que mais gostamos e quando “arrumamos” um tempo este é bem curto.

Isso tudo me veio da seguinte forma: da minha turma de faculdade tenho contato, digamos, mais constante apenas com alguns poucos amigos, tão poucos que dá até pra contar na mão direita. Mas são pessoas e amizades que sei que são pro resto da vida, diferente daqueles que ficaram para trás. Entre esses poucos, tem um que mora na mesma cidade que eu, em outro bairro, mas que levaríamos alguns minutos para nos encontrarmos e pormos o assunto em dia, como se diz por aí. Acontece que por conta dessa paranóia da qual estamos falando (da falta de tempo), ficamos sempre adiando um encontro e tentando remediar a falta de um bom papo face to face (cara a cara) através de tecnologias como o telefone, o computador...

Foi assim que fiquei pensando alguns dias atrás com meus botões: “preciso ver fulano pra conversarmos... ele já tem até um filho de cinco anos de idade e ainda nem o conheço!”. Isso tudo pode parecer besteira, mas este é apenas um exemplo, entre tantos outros, de como vamos adiando as coisas que gostamos e até mesmo precisamos fazer por falta de tempo.

Daí fiquei pensando: pra quê correr tanto se o que nos espera mais na frente é a morte! Se só temos esta vida, porque não vivê-la plenamente? Por que não aproveitar nosso tempo pra fazer coisas que gostamos e trabalhar de vez em quando pra poder fazer essas coisas? Será que ao chegarmos na vida adulta a finalidade de nossas vidas é apenas trabalho, trabalho e trabalho? A tirania a qual estamos submetidos (com o nosso consentimento, vale dizer) é incrível: trabalhar onze meses e ter apenas um de férias!


Uma entrevista:


Poderia terminar esse texto por aqui, mas gostaria de dividir com vocês, estimados leitores, as impressões que tive de uma leitura que fiz de uma entrevista com a filósofa Olgária Matos na revista Caros Amigos especial que trata sobre o pós-humano (nº 36 de novembro de 2007). Nesta entrevista, a filósofa fala basicamente sobre o “conceito de tempo e suas mutações no mundo contemporâneo”.

De uma forma geral, a entrevistada ressalta a questão da alienação do tempo, ou seja, “você não ser senhor do seu tempo”, o fato de você ser determinado pelo tempo das coisas e não ter controle de sua vida. Isso tudo resulta no fato de ao invés de experienciarmos o tempo de forma qualitativa, o fazemos de forma quantitativa.
Assim, esquecemos que o tempo da máquina não é o nosso tempo: em um computador a gente ouve música, digita um texto, faz um download, assiste a um vídeo, fala com alguém através de chats, manda um e-mail... a lista é quase interminável. Da mesma forma tentamos nos igualar a máquina: queremos ser o melhor profissional de nossa área, o melhor pai ou mãe, o melhor amante, o melhor amigo e no fundo não somos nem a metade disso porque já fazemos uma coisa pensando em outra, pensando em ganhar tempo.

Para o filósofo alemão Walter Benjamin, essa concepção de tempo da qual estamos falando é a do Chronos, ou seja, o tempo como uma acumulação sempre linear e indiferente. A esta, ele contrapõe uma outra que vai chamar de Kairos, tempo como intensidade e inovação que permite saber agarrar o instante decisivo da transformação possível.

Voltando à entrevista, a professora filósofa ressalta a produção de mercadorias e o consumo como fatores importantes para se entender essa questão do tempo. De que forma? Segundo ela o que move o homem é a pulsão pela novidade, é assim que “o que domina todo o imaginário, todo o ritmo da vida biológica e todo o ritmo da vida cotidiana é a produção e o consumo de mercadorias”.

Algo do tipo: a velocidade dos dias atuais está ligada ao tempo de obsolescência daquilo que consumimos. É por isso que não estranho que as pessoas tenham sempre que estar trocando de carro quase que todos os anos. Com certeza não é para cumprir a função básica de um carro, qual seja: levar alguém de um ponto a outro com mais rapidez, pois qualquer carro que ande pode fazer isso. Mas, no fundo, o que prevalece, entre outras coisas, é o consumo, o status... Coisas do capitalismo.


Voltando um pouco:


Há alguns dias atrás fui ver a apresentação de um artista local lá no Estação Ciência. Ao me aproximar do anfiteatro aonde aconteceria o show, a primeira pessoa que avisto é esse amigo do qual falei no meio do texto. Feliz coincidência!
Assistimos ao show, conversamos muito (finalmente colocamos o assunto em dia) e fiquei pensando: não fosse esse encontro ao acaso, quando iríamos nos ver? Será que da próxima vez a decisão partirá de nós ou ficará mais uma vez por conta do acaso? Mas eis que me lembro bem das ultimas palavras que pronunciei quando nos despedimos: “... a gente se bate!”.


Pra terminar:

Já que estamos no começo do ano, já que este é meu primeiro texto do ano e já que as formalidades nos impulsionam para isso, gostaria de tentar (até porque não sei se vou conseguir) começar este ano neste ritmo. Não o ritmo do qual tratei lá em cima, mas no ritmo da desaceleração, no ritmo do tempo do ócio, no tempo para os amigos, para o amor, para o trabalho também, claro e para tudo que realmente importa.
Gostaria de partilhar isso com vocês, caros amigos e leitores anônimos e que façamos disso (ou pelo menos tentemos fazer) uma prioridade neste ano que se inicia.