17.3.09

Manual de redação e estilo

O jornalista Victor Victorio, experiente profissional da área das letras, há mais de trinta anos empunha uma caneta hidrográfica preta e, armado de sólidos conhecimentos de Português (além de muita paciência) começa a leitura da edição do dia do jornal no qual trabalha. A esse tarimbado profissional compete localizar os erros e impropriedades que passaram ao largo dos mecanismos de controle instituídos para evitá-los.

Victor Victorio, não satisfeito com o que lia cotidianamente, elaborou o seu Manual de Redação e Estilo. Na aula de hoje, ele nos trás um exemplo ilustrativo não para mostrar como evitar possíveis erros de Português, mas, para apontar algumas situações típicas do ofício que requer do jovem jornalista, digamos, uma certa desenvoltura.

Aula nº 1.

Lousteau: Este é um exemplar do livro de Nathan, que Dauriat acabou de me dar; a segunda edição sai amanhã. Releia a obra e escreva um artigo que acabe com ela.
Lucien: Mas o que se pode dizer contra esse livro? Ele é bom!
Lousteau: Ora, bolas, meu caro, aprenda o seu ofício. Mesmo que o livro seja uma obra-prima, com uma penada você pode transformá-lo numa tremenda bobagem, numa obra perigosa e nociva.
Lucien: Mas como?
Lousteau: Transformando as belezas em defeitos.
Lucien: Eu sou incapaz dessa proeza.
Lousteau: Meu caro, jornalista é acrobata; você precisa se acostumar aos incômodos da posição. Olhe só como eu sou bonzinho! Vou dizer qual é o modo de agir em casos semelhantes. Atenção, menino! Você começa dizendo que a obra é boa, pode até se divertir dizendo o que de fato pensa. O público pensará: “Esse crítico não é invejoso, sem dúvida vai ser imparcial”. A partir daí o público vai achar que sua crítica é conscienciosa. Depois de conquistar a estima do leitor, você diz que lamenta, mas precisa condenar o sistema para o qual a literatura francesa será levada por livros como esse. [...]

Prossegue o personagem ensinando Lucien como se derruba uma obra ou alguém.

Trecho da obra Ilusões perdidas (1835-1843) de Balzac. O livro narra a saga de Lucien de Rubempré, jovem poeta francês que impedido de viver de sua arte se tornou jornalista em Paris. Este livro trata da perda da inocência.

Brasil, dois mil e nove. Imagine agora os meios de comunicações de sua cidade. Visualize os “personagens principais” desses meios. Parece que as coisas não mudaram muito nos últimos dois séculos.

4 comentários:

Isabella Araújo (Zabella) disse...

o problema é exatamente imaginar os meios de comunicação da minha cidade...
ai!

Isabella Araújo (Zabella) disse...

quer dizer, problema pra quem?
engraçado, as ilusões perdidas emergem logo após a Revolução Francesa... alguém enganou alguém com essa coisa de liberdade, igualdade e fraternidade.

Anais disse...

Triste quando o "furar o olho" do outro torna-se um dos "ossos do ofício". Por isso que tem tanta gente que busca outras alternativas, a exemplo, correm pro mestrado... Dentre tantos outros motivos para tal conheço casos onde também figura o medo do mercado de trabalho... Ainda que lecionar seja um grande desafio, o mercado é um mundo cão, mais que a sala de aula e seus tantos alunos e tantas demandas.

Fabiano disse...

Realmente... mas se colocarmos as duas opçõs na balança ela para no meio.