Espere mais um tempo, amor.
A tempestade está por vir.
Não vamos perder mais este espetáculo de nossas vidas.
Sejamos um até mesmo neste momento.
Até que a vida nos separe.
Em que tempo se conjuga seu sentimento? Ontem?
Hoje? Amanhã? Agora? Daqui há pouco? Para sempre? Em que tempo estamos? Que ano
é este? Qual dia da semana? Todos os nortes estão tão distantes e o agora é uma
interrogação.
E quando dobrou a esquina e deu de cara com a vida
ficou confuso. Vida: planos e cotidiano. Então, já não sabia mais quão distante
estava das coisas ou de como tudo se distanciou. Sabia e apenas sabia que algo
mudou, que algo estava diferente; são coisas que se sente, pois se sabe quando
acontece.
Pensava sobre essas coisas às 3h37 da madrugada. Queria
ligar para alguém, poder falar sobre bobagens desse tipo em plena madrugada... Desligou
o telefone e foi dormir. Amanhã é outro dia.
Por onde ela passa nascem flores, flores do mal.
Perigo! Diz a placa. Não pise na grama. Lá vem o cortejo, abraço o defunto que
colheu as flores de seu jardim. Me despeço. Entre as lágrimas, uma negra.
Por onde ela passa nascem plantas, plantas carnívoras.
O jardineiro da cidade está sumido há alguns dias. Da morte conheço apenas seu
olhar que congela corações. E nem mesmo o brilho de mil sóis refletidos no
espelho de seu quarto.
Nas paredes da cidade, cartazes de procura-se. Recompensa:
anistia de todos os pecados cometidos. E não descanso enquanto não te achar.
A placa de vende-se anunciava sonhos baratos, bem
caros para quem não sabe mais sonhar. A placa de trânsito me mandou seguir em
frente. E quase fiz a volta ao perceber que é por ali que ela passa. Mas a experiência
é coisa única.
Como na vida não há partituras e nem maestro estamos todos
condenados a ser livres, já dizia o filósofo. E uma voz que veio lá de dentro
disse: desafinem! Desafinem seus loucos!
No seu peito um toque acelerado. Suas mãos suavam, seus gestos eram confusos; seu olhar, ao mesmo tempo, atento e nervoso.
A fala, entrecortada, se perdia entre talvez, não sei e preciso ir. Mas no fundo, ensaiava uma aparente calma e controle da situação.
Passados alguns minutos decidiu partir, pois aquela situação era como um texto que se sabe como começa, mas não sabe como termina.
E tinha medo disso, pois disso todos têm um pouco de medo.