1.7.08

Olhos vestidos de luneta

"Olhar você e não saber..."
Marina Lima
Composição: Dalto/Cláudio Rabello




Aquele olhar tinha direção certa e era só questão de tempo perceber que aqueles olhos estavam só a lhe mirar.

Ao perceber, deu-lhe um desajuste, uma coisa sem jeito que tentou disfarçar mas pouco adiantou. Ficou pensando, pensando... Deu uma olhada ao redor fingindo não ser para ele e, quando não tinha mais para onde olhar, viu de fato que aqueles olhos miravam-lhe quase atravessando-o.

Parou e encarou também. Ficaram ali se olhando por um interminável tempo. As pessoas iam e vinham apenas acelerando a data de suas mortes. Já sem se importarem com nada, apenas ficaram ali suspensos no tempo.

No meio daquela situação surge mutuamente uma leve vontade de sorrir que vai tomando conta dos dois até explodirem em risadas. As pessoas que passavam não entendiam nada. Mas não importava, já haviam conquistado muito naquele dia. E foram embora com um leve ar de criança feliz.


"O seu olhar agora
O seu olhar nasceu
O seu olhar me olha
O seu olhar é seu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu"

O seu olhar (Paulo Tatit / Arnaldo Antunes)

3 comentários:

Isabella Araújo (Zabella) disse...

belíssimo texto!
fiquei tentanto visualizar os olhos vestidos de luneta. pense num olhar poderoso...

Anônimo disse...

Valeu Zabella.
Na verdade, os "olhos vestidos de luneta" é inspirado na música "mistério do planeta" dos Novos Baianos:

"Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso
Jogando meu corpo no mundo
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
E deixo e recebo um tanto
Passo aos olhos nus
Ou vestidos de lunetas
Passado, presente
Participo sendo o mistério do planeta..."

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado