13.11.06

Algumas Palavras


Janela nº3

Quando olho para além dela
Vejo a imensidão
Vejo a calma e vejo o silêncio da noite
Posso até escutá-lo.

Daqui, até mesmo o vento
Vem me cumprimentar.
Toda a rua fala neste instante
Basta apenas ouvir

A fala da noite
Trazida pelo vento
Iluminada pela lua.
Toda a rua fala neste instante

Foto: Tirada de um celular.



A vida


Se a vida um dia me permitirlhe decifrar
Deixarei algo escrito sobre ela.
Pintarei sobre a sua pessoa.

Quem sabe até cante algo sobre ele
Ou então recitarei palavras para lhe dizer...
...Se ela me permitir que diga.
Momento


Fico aqui sentado
Olhando essas pessoas passarem.
E embora andem na mesma direção,
Todos eles tem caminhos diferentes em suas cabeças.

Em suas cabeças esplodem idéias, Emoções, sentimentos...
Todos eles esperam por essa hora,
Todos eles esperam o seu momento.

Fico aqui sentado
Olhando essas pessoas passarem
Esperando por esse momento.
Antes Que


Vou parar com isso de ser poeta.
Antes que fique louco
Antes que fique rico.
Antes que fique triste ou

Antes que fique famoso depois de morto.
Vou parar com isso.

3.11.06

O Olho Que Se Vê

Pela janela via o movimento. Todo mundo passando de um lado para o outro. Pessoas que andavam sem saber pra onde iriam e o que iriam fazer. Olhos fixos perdidos no horizonte. Sabe-se lá o que pensavam, sabe-se lá pra onde iriam.

A verdade é que iam pra algum lugar, mas da janela não dava pra ver o destino dessa massa de zumbis que caminhavam para o nada. Decidi ir atrás.

Já na rua, ninguém me dava atenção. Fui caminhando também sem destino e pensando comigo mesmo: “pra onde vão?”. Continuei caminhando, sempre em frente. Cada vez mais aumentava o número de pessoas que, sem destino, andavam catatônicas.

O ano era 2074. Após uma grande guerra que uniu os países do Norte do globo terrestre numa só potencia (Os Estados Unidos do Norte) e excluíram os países do Sul, privando-os de toda a tecnologia disponível, o mundo se viu bi partido. O caos se espalhou por toda a parte. Com o esgotamento de matérias primas, que antes de tudo isso acontecer eram enviadas aos montes para os países do Norte como pagamento de dívidas, os países do Sul se encontravam completamente sucateados. Foi uma volta à Idade Média.

Diante desse panorama as pessoas se viram perdidas sem nada, num mundo dividido e com fronteiras vigiadas com câmeras e muros enormes por todos os lados. No meio desse caos era comum encontrar pessoas caídas pelo chão na mais completa miséria, outras brigando por um pão, casas arrombadas...

Continuei seguindo a multidão que se empurrava mais a frente tentando olhar algo. Numa casa, que parecia ser a única, uma televisão ligada. Todos pararam ali a olhar o objeto que apresentava algum programa captado via satélite, privilegio de alguns poucos. Ficaram ali durante muito tempo. Em cada rosto a mesma expressão paralisante.

Do lado Norte do globo, famílias inteiras se aconchegavam em suas salas para assistir o mais novo formato do Big Brother em que os moradores do Sul do mundo eram filmados por poderosas câmeras que apontavam suas lentes do alto do universo em direção a terra.

22.10.06

Aquela Sensação


Lá atrás onde ninguém volta a não ser no pensamento, ficou perdida em algum lugar aquela sensação.

Ninguém sabe a não ser eu, das cores, do cheiro, do brilho e outras sensações que iam marcando a minha passagem por este caminho e aos poucos, como que me revelando a vida, logo em seguida me mostrava o mel e o fel.

Onde estão todos agora? Aquela música longa acabou. Já não canta mais a beleza de antes. Viraram o outro lado do disco e o novo chegou. Agora, o cenário é outro e o roteiro diferente: não somos apenas filhos e embora ainda apenas o seja, já sinto o efeito de Cronos.

Hoje são outras cores, outros cheiros e brilhos. Só o tempo mostrará a duração do seu eco.

15.9.06

Quadros...



Inspirado na obra de Augusto dos Anjos e lewis carrol, o artista plástico santarritense Jason Morais expôs algumas de suas telas no início de 2006 na "cidade dos canaviais". Paralela a exposição apresentações de bandas, poesia etc. para um público que, aparentemente, não estava entendendo nada.

Aperfeiçoando cada vez mais o seu estilo e sempre buscando na literatura ou em temas religiosos, filosóficos e ufológicos assuntos para suas telas, o artista prepara mais uma leva de quadros. Desta vez baseados na santa seia.

Abaixo, alguns quadros que fizeram parte da exposição.







By: Jason Morais

Quadros...

By: Jason Morais

Quadros...

By: Jason Morais

Quadros...

By: Jason Morais

Quadros...

By: Jason Morais

Quadros...

By: Jason Morais

Quadros...

By: Jason Morais

Quadros...

By: Jason Morais

9.7.06

Para:

Para os amantes: a decepção;
Para os sábios: as orelhas do rei Midas;
Para os felizes: um minuto de tristeza;
Para os tristes: um segundo de felicidade;
Para os iluminados: um momento de escuridão;
Para os crentes: a descrença;
Para o vitorioso: a derrota;
Para o derrotado: o pódio;
Para o poderoso: o fracasso;
Para o fracassado: a espada;
Para o suicida: a vida;
Para o belo: Cérbero;
Para feio: o espelho;
Para o narcisista: o espelho quebrado;
Para o cheiroso: o percevejo;
Para o ying: o yang;
Para o amor: a cólera...

... e depois, como será que será?

22.5.06

O Ufanismo Brasileiro em Época de Copa do Mundo





Mudando de Assunto...





Há menos de um mês para a copa do mundo é notória a euforia nacional com o fovoritismo da Seleção Brasileira neste mundial. Por todos os lados da cidade as cores verde e amerelo estão presentes em camisas, bonés, em bandeiras penduradas em carros, nas unhas pintadas das meninas, em enfeites espalhados pelas ruas e até mesmo na pequena blusa da criança inocente que passa e todos acham graça.

De quatro em quatro anos, sempre no mês de Junho, o brasileiro esquece de todos os seus problemas e, literalmente, pára para assistir a sua seleção entrar em campo. Em meio aos dribles dos craques, aquela imagem de um país corrupto vai ficando para trás, cedendo espaço para a alegria de um gol. A seleção vence o primeiro jogo! Alegria geral na nação, todos se abraçam esquecendo até mesmo brigas pessoais e se emocionam em ver seu jogador preferido – aquele que ganha milhões de Euros num time lá fora – marcar um gol de placa. Enquanto isso num Brasil real, as facçõs criminosas vão tramando seus próximos ataques em grandes cidades através de telefones celulares com as cores da bandeira basileira que um carcereiro corrupto conseguiu para um preso. Na narração instigada do locutor do jogo, o brasileiro vai se deixando levar durante noventa minutos e sente junto com ele o gol que a seleção sofre logo no primeiro tempo. Não demora muito e um torcedor acende uma vela pro primeiro santo que atender o seu pedido pra seleção ganhar a partida. No desespero do momento, promete que se seu pedido for atendido ele vai assistir todas as missas da igraja mais próxima até a próxima copa. Fim de jogo: Brasil ganha a partida. Depois de comemorar a vitória o torcedor logo lembra da promessa e faz cara feia.

Entre um jogo da seleção e outro as apostas vão aumentando proporcionalmente aos números de eleitores que votarão no ex-Deputado Severino Cavalcante, aquele que renunciou o seu mandato de Presidente da Câmara dos Deputados, depois das acusações de suborno a um empresário, e que hoje é um dos mais cotados nas intenções de votos em sua cidade no interior de Pernambuco. É... parece que o brasileiro tem memória curta. Mas vamos fazer um teste e perguntar quantas vezes o Brasil foi campeão da copa e, pra complicar, vamos perguntar também em que ano? Duvido que mais de três pessoas errem a pergunta!

Esse grande momento esportivo esperado a fio e contado nos dedos por sua chegada, parece maquiar uma gama de problemas do dia-a-dia que acaba ficando pra depois. São nessas horas que o presidente (que não sabia de nada) agradece a ausencia de assuntos sobre o governo nas principais revistas, pois eles estarão ocupadas com a copa. Mas logo em seguida o brasileiro volta ao seu ritmo normal e se lembra que aquele cara que ele abraçou na hora do gol é seu inimigo.

É curioso esse ufanismo brasileiro. São poucas as manifestações que reunem a grande massa, assim como agora na copa, contra atos que nos lesam no dia-a-dia. O brasileiro parece que só se lembra que é brasileiro de quatro em quatro anos.

Decisão final da copa do mundo de 2006, Brasil e... Todos os brasileiros assistem vidrados na telinha da TV a grande partida. Será que o Brasil vai ganhar? Essa é uma pergunta difícil de responder, mas uma coisa eu posso afirmar: o cara que fez a promessa pro Brasil ganhar com certeza não vai assistir sequer uma missa.

16.5.06

Quando Tudo Parecia Estar Bem


“A mídia eletrônica impõe uma cultua do olhar. Mas poucos desconfiam que o olho
dos meios de comunicação pertencem a um narciso às avessas: precisam de formas
exteriores para ser aceito.”

Wellington Pereira em: O Beijo da Noiva Mecânica.Ensaios Sobre Mídia e Cotidiano






Cássia era uma atriz. Sua fama chegou rápido como uma tempestade que nos pega no meio do caminho. Ela era jovem bonita e talentosa.

Logo cedo a mãe percebeu as habilidades da filha que ficava em frente à televisão imitando tudo que via fazendo caras e bocas. Não demorou muito e a levou para um teste em um comercial na TV local da cidade. Foi um sucesso! Todos – produtores e público – ficaram encantados com o carisma de Cássia que, ainda criança, reunia em si todas as características de uma pessoa de grande talento. E esse foi um entre vários outros contratos que surgiram.

Cássia logo cedo se viu obrigada a abandonar o seu mundo de fantasias onde as principais personagens eram suas bonecas para fazer parte de um novo mundo, também fantasioso, onde a principal personagem era ela. Cumpria uma agenda cheia, logo após as aulas, de gravações de comerciais, desfiles infantis de moda, entrevistas, sessões de fotos etc. Além disso, fazia aulas de teatro e dessa forma não tardou muito a aparecer convites para novelas. Sua vida era um sucesso em tudo que fazia no meio artístico. Passou parte da infância e adolescência entre câmeras de TV’s e flashes fotográficos. Já na vida adulta, com seus vinte e poucos anos, estampava todas as capas de revistas que repousavam nas bancas. Sua rotina de trabalho só fazia aumentar: fotos, desfiles, novelas, comerciais...

Cássia tinha uma vida que muitas meninas de sua idade fariam qualquer coisa para ter. Mas é bem verdade que no seu caso as coisas foram acontecendo, acontecendo, acontecendo... É bem verdade também que sua mãe ia criando no imaginário da criança um mundo maravilhoso por trás da telinha, flashes e desfiles. É claro, sempre de olho no que isso tudo poderia render para seu bolso. Dessa forma parecia que o mundo girava ao redor da mais recente celebridade. Foi notícia em tudo que era revista e jornal. Paparazes invadiam sua vida particular sem a menor ética. Distorciam informações, publicavam fotos de momentos pessoais, inventavam namorados, amores e amantes. O seu rosto virou referência de beleza feminina, sua vida se tornou assunto. Só saía nas ruas se estivesse disfarçada e por onde olhasse via seu rosto. Fosse num outdoor, na capa de revista, num jornal ou até mesmo nos comercias das TV’s ligadas de lojas de eletrodomésticos, seu rosto aparecia perfeitamente maquiado escondendo até mesmo as manchas de algumas espinhas que marcaram seu rosto e sua recente adolescência.

Por alguns segundos que pareciam minutos, horas, anos... Cássia (numas de suas investidas ao mundo exterior) permaneceu ali parada em frente à parede de TV’s ligadas num mesmo canal que exibiam seu rosto sorridente influenciando os telespectadores com a sugestiva frase: “eu recomendo” no fim do comercial. Naquele instante, um vendedor que a percebeu ali paralisada perguntou se estava bem e com a recente imagem do comercial em sua cabeça percebeu quem era ela. E como se tomado por um acesso de euforia e adrenalina, começou a gritar na rua chamando a atenção de todos dizendo que ela era Cássia e que estava disfarçada. Os gritos chamaram a atenção de todos que por ali passavam. Transeuntes que iam ou vinham do trabalho, mulheres, homens, crianças, pedreiros, advogados, empregadas domésticas, professores, vendedores, ambulantes, garis, médicos, engenheiros... Todos que não faziam parte do “mundo maravilhoso” da mídia avançaram para vê-la de perto, pegar um autografo, tocar sua pele, saber se ela era de verdade, como fez pra ficar bonita, qual era a mágica... De um instante pra outro ela se viu cercada de pessoas que nunca viu em sua vida, mas que estavam cansadas de vê-la na TV. Cada vez mais essas pessoas avançavam pra cima dela, ela se viu desesperada e sem saída e o povo tomado por um descontrole incomum começou a tocá-la, a arrancar partes de sua roupa, puxar os fios de seu cabelo. Ela começou a gritar desesperada e caiu no chão desfalecida. A massa humana avançou descontrolada pra cima dela, todos queriam um pedaço, queriam vê-la, queriam tê-la, queriam ser como ela.

No outro dia a morte de Cássia era notícia em todos os jornais, revistas e noticiários de rádios e TV’s. Dias depois ninguém lembrava mais do ocorrido. Não sei se por coincidência ou não, mas a mídia já tinha elegido a sua mais “nova celebridade”. E cássia, agora, não passava apenas de uma lembrança distante que se foi muito rápido. Assim como uma tempestade que nos pega no meio do caminho.